Poeta e Educador

Discurso de Lançamento o Mágico e Tempo

Discurso proferido por ocasião do lançamento do livro “O Mágico e o Tempo”, em Fortaleza no dia 14 de julho de 1965.

OBRIGADO, POESIA

Disse Nabuco num momento de inspiração (e todo momento de inspiração o é também de iluminação e sabedoria) que privar um poeta da sua linguagem é roubar‑lhe a metade d’alma. Meus amigos, não quereis, decerto, praticar essa odiosa contravenção lírica, neste instante em que me envolveis com vossa generosidade de espírito e coração. Permitireis, sem dúvida, que aqui vos fale a linguagem própria da poesia, que é a minha própria linguagem. Assim serei eu mesmo, no que possuo de mais íntimo e de mais autêntico em minha personalidade e em minha vida. Fiz‑me educador; nasci poeta. Reuni‑os num só destino; são as duas faces de um mesmo ser ou a expressão total da mesma existência aberta em dois caminhos para o infinito. Muitas vezes, no contato da infância e da juventude que formei pude atingir a pleni­tude da poesia, da poesia que vive sem palavras, na essência e na transcendência de suas formas mais genuínas e perfeitas. No gesto profundo como um verso puro e nas atitudes que obede­cem ao ritmo essencial daquele amor pedagó­gico, que também cria. Nesta altura, ou neste declive da existência, unge‑me a poesia como um óleo purificador e renovador. Sob seu influxo como a criança que ainda vive no meu ser, eu amo a vida; ainda experimento entusiasmos juvenis diante do espetáculo cambiante da vida; com a força do pensamento amadurecido procuro penetrar o sentido da vida; e até abençôo a vida, com a serenidade que o tempo, esse mágico invencível, prodigalizou aos que, sob as espumas dos cabelos brancos, ainda sonham, vibram, amam e esperam… Meus amigos! aqui está meu livro “O Mágico e o Tempo” em vossas pródigas mãos para o bendizerdes ou condenardes. No meu suspeitíssimo julgamento, ele é um livro‑mensa­gem, como o classificou esse espírito privile­giado, que é João Clímaco, porventura a menta­lidade mais fecunda e criadora de sua geração. Sei que é mensagem porque, através dele, tento dialogar com todos os homens na língua da poesia, que um filósofo já chamou de língua materna do gênero humano. Todo ele está cheio de meu sentimento de solidariedade humana, de compreensão humana, de ternura humana. Para apresentá‑lo, amigos, contei hoje com uma das vozes mais abalizadas e cultas deste país, voz de sábio e de artista, voz de ressonân­cia nacional e continental – Djacir Menezes. Não poderia desejar maior galardão para meu livro nem brilho mais solar para esta tarde de autógrafos. E a interpretação, tão sua, que a notável declamadora Conceição de Maria Weyne de Melo imprimiu aos dois poemas de minha autoria deu‑me a ingênua ilusão de que são dignos de sua arte e, afagado por essa ilusão, eu lhe beijo com reverência as nobres mãos de artista. A esta amorável Livraria Renascença, que é uma espécie de bureau oficial da cultura cearense, agradeço o relevo e o carinho dispen­sados ao lançamento de minha mais recente obra poética. Meus amigos, muito obrigado! Permiti‑me dizer ainda: Obrigado, Poesia!