Letra : Filgueiras Lima
Senhor! Vós que fostes mestre, porque muito
amastes, Vós que sois o caminho, a verdade e a vida, fazei que
em amor a minha alma se abrase, ao transpor cada dia umbrais
de minha escola.
Quero ser para os meus gárrulos discípulos como
o pelicano para os seus filhotes. Reza a lenda que esta ave
prodigiosa – ave da dedicação e da renúncia – alimenta os
seus pequeninos rebentos com o própio sngue, a própria vida.
Mata-se lentamente para que êles vivam, e cresçam, e sejam
fortes e felizes. Amor de pelicano é também êste amor
pedagógico da professora pelos seus alunos, tão grande e tão
puro amor que não visa à correspondência afetiva nem à
compensação material. Amor que se contenta com a ventura
que os seres inocentes propociona e concede, com abrir-lhes os
olhos e o espírito para as maravilhas da ciência, as belezas do
mundo e os mistérios da eternidade.
Senhor! Bem sei que não bastante humildade, e
carinhosa, e compreensiva, e paciente, e generosa, e doce, para
seguir o exemplo que nos destes naquele dia em que um bando
vivaz de meninos erradios vos cercou e envolveu, tornando-vos
o passo, quando estáveis a caminho de Jerusalém – “Deixai vir
a mim as criancinhas”. Como uma música extraterrena, esta
frase brotou do Vosso humano coração divino…
Fazei que o eco destas palavras sacrossantas
rompendo o espaço e o tempo, embale constantemente o meu
espríto, a minha consciência e o meu coração de educadora. Na
obra de formação moral e mental da infância, ajudai-me ter
sempre em vista o lado criador do meu esfôrço cotidiano, para
que sinta e compreenda que em cada um dos mues discípulos eu
devo deixar um pouco de mim mesma. E que nunca mais, pela
vida em fora, possa romper os laços afetivos e morais que eles
me prendam, como cadeias de ouro, mas sempre cadeias.
Ainda que me tentem os ouropéis da glória, o
fausto da riqueza, e o orgulho das posições eminentes – dai-me
forças para vencer a tudo e a todos, mantendo-me
intransigentemente fiel ao ideal a que me consagrei, debaixo
das Vossas bençãos, com o pensamento em Vós, para servir –
Vos, ó meu Mestre, meu Guia e meu Senhor